domingo, 13 de janeiro de 2008

Poema - 22


MEU MENINO INO, INO

1

Dos versos que exprimem,
Estou cansado!

Das palavras que explicam,
Estou cansado!
Dos gestos que explodem,
Estou cansado!

Ai, embala-me, fútil, e frágil, no ó-ó dos teus versos,
Ai, encosta-me ao peito...!

Mais não quero que ser embalado.

2

O menino está doente...
- Diz a mãe.

Qui-é qui-é
Que o menino tem?

Ai...!
- Diz o pai.

A criada velha chora pelos cantos
E reza a todos os santos...

Afirma o senhor doutor
Que amanhã que está melhor.

O pai suspira:
- Quem sabe lá ?!

E o menino diz
- Papá... !

A mãe chora:
- Quem já me dera amanhã !...

E o menino diz:
- Mamã...!

E, com a febre, rezinga,
E choraminga,
Olhando a lua amarela
Como uma vela:
- Quero aquela pela...!

Mas o Pai do Céu sorri:
- Vem cá vê-la !
É para ti.

3

- Acabaste?

- Meu amor, acabei.

- Apagaste a candeia? Apagaste?

- Meu amor, apaguei.

- E fechaste o postigo? E fechaste?

- Meu amor..., sim, fechei.

- Que rumor é aquele? Não sentes?

- Meu amor, que te importa?
É a vida a dar socos na porta.
É lá fora. São eles. É o mundo. São gentes...

- São gentes? Quem são?

- São colegas, amigos, parentes...

- Vai dizer-lhes que não ! Vai dizer-lhes que não !

(José Régio)

4 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Que bonito este poema. Penso que não o conhecia, apesar de já ter lido bastante José Régio. Mas não me lembro deste poema. Gostei muito.
Um abraço e uma boa semana

Luz disse...

Olá amigo desaparecido.
Vim deixar-te beijinhos.

Unknown disse...

Já tinha comentado este poema ontem e o meu comentário desapareceu ,mas tudo bem.
Ok, venho dizer que tem um prémio no meu blog á sua espera.
Boa semana.

Manuela

Pandora disse...

lindo o poema...boa noite amigo...beijos...muitos...