quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Foi ontem a enterrar ALEKSANDR SOLJENITSYNE, sobrevivente dos campos de concentração soviéticos, os "GULAG", e Prémio Nobel da Literatura em 1970.




O escritor russo Alexander Soljenitsin, que morreu, dia 5, em Moscovo, com 89 anos, foi quem mostrou ao mundo o universo inumano dos campos de concentração soviéticos no seu clássico “Arquipélago de Gulag”.

Patriota com uma determinação comparável, segundo os críticos, à de Fedor Dostoievski, não foi capaz de vencer o cancro de que padecia e acabou por falecer de insuficiência cardíaca aguda na sua residência, na capital russa.
Nascido a 11 de Dezembro de 1918, no Cáucaso, aderiu aos ideais revolucionários bolcheviques daquele tempo, estudou Matemática e tomou parte como artilheiro na II Guerra Mundial, contra o III Reich alemão.
Dos campos de batalha, em 1941, aos campos de concentração, em 1945, foi um passo, por ter ousado criticar a competência bélica do ditador russo José Estaline.
Libertado em 1953, foi exilado para a Ásia Central, onde começou a escrever, viajando depois para Riazan, a duas centenas de quilómetros de Moscovo, para ser professor.
O sucessor de Estaline, Nikita Khroutchev, deu “luz verde” à publicação - na revista Novy Mir - de “Um Dia na Vida de Ivan Denissovitch”, relato do quotidiano de um recluso nos “gulag”, editado a 18 de Novembro de 1962.
Uma onda de choque sacudiu a Rússia e em especial os meios soviéticos mas, sobretudo, o mundo, que abriu os olhos para uma realidade até então desconhecida. Tinha caído um tabu.
Soljenitsin continuou a escrever, mas livros como “O Pavilhão dos Cancerosos”, ou “O Primeiro Círculo”, tiveram de ser publicados clandestinamente e no estrangeiro.
O Nobel da Literatura foi-lhe atribuído em 1970, mas declinou ir recebê-lo a Estocolmo com receio de não poder regressar à mãe Rússia, então sob liderança de Leónidas Brejnev.
O seu primeiro casamento terminou em divórcio quando estava a ponto de concluir a obra magna “Arquipélago Gulag”, um fresco histórico-literário sobre os campos de concentração soviéticos.
Uma nova vaga de entusismo varreu o mundo, para fúria do Kremlin, que expulsou Soljenitsin para o Ocidente, primeiro para a Suíça, e depois para os Estados Unidos da América, onde se radicou em Vermont.
Os ocidentais reparam, entretanto, que Soljenitsin era um conservador ortodoxo e defensor acérrimo da cultura eslava, muito duro para com a sociedade de consumo.
Em 1994, voltou à Rússia e espantou toda a gente ao aprovar a segunda guerra na Tchetchénia desencadeada por Boris Ieltsin - a primeira foi no século XIX -, pedindo a pena de morte para os independentistas.
Aproximando-se a seguir do então Presidente Vladimir Putin, louvando publicamente as suas qualidades.
Soljenitsin atacou ainda os hebreus, ao ponto de o Congresso Judaico Russo o ter acusado de anti-semitismo.
No início deste ano, numa mensagem de apoio a Belgrado após a declaração unilateral de independência por parte de Pristina, Soljenitsin pediu “aos sérvios que ficaram a viver na terra histórica do Kosovo, que fez secessão de forma injusta”, para terem a coragem “de continuar a permanecer perto dos túmulos” dos seu próximos.
A direcção da Igreja Ortodoxa Russa ordenou a realização de serviços religiosos em todos os seus templos "pelo descanso da alma de Alexander Soljenitsin".
Segundo a Fundação Soljenitsin, citada pela agência russa Interfax, os restos mortais do escritor estiveram, em câmara ardente, na Academia de Ciências, em Moscovo, com todas as honras de Estado, tendo-se realizado o funeral ontem.
Enquanto durou a União Soviética PERSEGUIRAM-NO, PRENDERAM-NO e EXPULSARAM-NO do País. Mas ontem membros da KGB (antiga polícia política russa), prestaram homenagem ao escritor dos “GULAG”.

Alexandre Soljenitsin, foi sepultado no mosteiro ortodoxo de Donskoi, em Moscovo, na presença de centenas de pessoas, entre as quais o Presidente Dmitri Medvedev.
Durante as exéquias, três salvas de tiros foram disparadas, ao mesmo tempo que soava música militar, chovia e fazia vento na cidade.
Pouco antes, o Chefe de Estado russo, que interrompeu, ontem, as férias que efectua com um cruzeiro no rio Volga, para estar presente no funeral, assistiu à cerimónia religiosa celebrada na catedral do mosteiro Donskoi pelo Arcebispo Alexi, Vigário do Patriarca ortodoxo russo, Alexis II.
Dmitri Medvedev depôs uma coroa de rosas vermelhas sobre o caixão e falou por breves instantes com a viúva Natalia Soljenitsyna, a quem apresentou condolências.
Seis soldados, precedidos de um oficial da guarda, que transportava uma fotografia do laureado com o Nobel da Literatura, carregaram depois o caixão até ao local escolhido pelo próprio escritor para ser sepultado, junto do altar do Templo de S. João, num túmulo ao lado do de Vassili Kliutchevski, conhecido historiador russo do séc. XIX.


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Factos e considerações:

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1.“Perdemos a consciência da nação”.
Serguei Kapitsa
(Académico russo)


2.«A morte de Alexander Soljenitsin é uma grande perda para toda a Rússia. Estamos orgulhosos de o ter tido como compatriota e contemporâneo (…) Será lembrado como uma personalidade forte, corajosa, de uma grande dignidade (…) O seu compromisso literário e cívico, o seu longo e espinhoso destino serão para nós um exemplo de autêntica abnegação, ao serviço das pessoas, da Pátria, dos ideais de liberdade, de justiça, de humanismo».
Vladimir Putin
primeiro-ministro russo
(telegrama de condolências
enviado à família do escritor)


3.Foi «um homem com um destino único (…) Alexander Soljenitsin atravessou provações difíceis como milhões de cidadãos do país (…) Foi um dos primeiros a falar em voz alta do carácter desumano do regime estalinista e dos que o conheceram e não se deixaram vergar».
Mikhail Gorbachov
antigo Presidente da ex-União
Soviética e “pai” da "perestroika"


4.«Soljenitsine foi o critério da nossa vida, ele foi o nosso Homero (…) toda a biografia de Alexander Issaevitch é uma prova da sua coragem extraordinária. Tendo passado por campos de concentração e provas terríveis, ele não perdeu a esperança e a fé numa melhor vida para a Rússia».
Iúri Liubimov
encenador do Teatro
Taganka de Moscovo


5.«É necessário declarar luto nacional. Para mim, Alexander Soljenitsin é uma figura de envergadura planetária. Trata-se de uma grande perda para a sociedade».
Stanislav Govorukhin
realizador de cinema


6.«Perdemos um grande escritor. Era simultaneamente um grande escritor, um grande intelectual e um grande político (…) contribuiu como ninguém para a queda do comunismo ao denunciar a existência dos “gulag”».
Zita Seabra
ex-dirigente comunista


7.[“VLADIMIR LENINE e JOSÉ ESTALINE”], ditadores russos, responsáveis por milhões de mortos, conforme consta em documentos históricos, foram duas das personagens históricas russas mais criticadas pelo Nobel da Literatura".
Joseph
(após consulta da Net)


JornalMadeira/24h/Lusa/Net/Joseph

1 comentário:

Andreia disse...

Não o conhecia!