quinta-feira, 20 de março de 2008

QUINTA-FEIRA SANTA - A Última Ceia...


A Última Ceia (Quadro de Leonardo da Vinci)


Entre os acontecimentos que se sucederam nos últimos momentos de Jesus Cristo , está a Instituição da Eucaristia. Daí decorre a instituição do sacerdócio ministerial e o sinal de serviço marcado pelo amor que é verdadeira entrega. É neste contexto que se situa o LAVA PÉS.
O evangelista João é o único a colocar dentro do contexto da Última Ceia de Jesus com os seus discípulos este episódio em que Jesus se levanta da mesa, depõe o manto, cinge-se com uma toalha e começa a lavar os pés dos discípulos.
É muito interessante podermos citar o texto por completo (Jo.13,1-20) para que o leitor possa perscrutá-lo na Sagrada Escritura, para um entendimento verdadeiro do que Jesus estava fazendo. Vejamos alguns pontos fundamentais:
“Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. Durante a ceia, quando já o diabo pusera no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, o projeto de entregá-lo, sabendo que o Pai tudo pusera em suas mãos e que ele viera de Deus e a Deus voltava, levanta-se da mesa, depõe o manto e, tomando uma toalha, cinge-se com ela. Depois põe água numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido” (Jo.13,1-5).
Este gesto não foi criado por Jesus Cristo, e, portanto não era desconhecido pelos seus discípulos. Isso se fazia no Oriente todas as vezes que se entrava em casa vindo de uma caminhada nas estradas, pois, ou se andava com os pés descalços ou revestidos apenas com um tipo de sandália. E, portanto não era diferente com Jesus e os seus discípulos nas estradas poeirentas de toda a Galiléia e região.
Então porque Pedro se recusa, de uma forma tão decidida, a deixar-se lavar por Jesus? “Senhor, tu, lavar-me os pés?... Jamais me lavarás os pés!” (Jo.13,6ss). Pedro sabia muito bem que quem fazia este serviço na casa era o servo, ou o escravo e às vezes a mulher do chefe da casa. Este porém era considerado o serviço mais humilde do escravo e do servo, e isso ele nunca iria aceitar do seu “Mestre e Senhor”.
Jesus aceita ser chamado de Mestre e Senhor e confirma que o é, mas demonstra que este seu gesto não será apenas um sinal de limpeza, purificação ou de acolhida do hóspede que chega. Esta sua atitude manifesta a superação de todo este sentido antigo para expressar, antes de mais nada, a confirmação do seu amor e as suas conseqüências “...tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”, e, em seguida, para determinar o caminho pelo qual também deverá passar todo aquele que quer ser seu discípulo “...também deveis lavar-vos os pés uns aos outros... dei-vos o exemplo para que , como eu vos fiz, também vós o façais”, palavra que Ele havia dito aos discípulos e que agora tornava visível na sua própria vida através desta atitude “...aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”.
Estamos, portanto diante de uma atitude de Jesus que nos leva a olhar para os diversos aspectos daquele acontecimento, daquela Ceia que era a última, antes de “passar ao Pai”. O primeiro aspecto deste acto foi o despojar-se de Jesus, da sua dignidade de Mestre diante dos discípulos “...depõe o manto... cinge-se com uma toalha, toma uma bacia com água” como fazia o escravo, realizando aquilo que Paulo depois na carta aos Filipenses vai narrar “...mas se despojou, tomando a forma de escravo” (Fil.2,7).
O seu serviço humilde e despojado se realiza até as últimas conseqüências e se manifesta numa entrega profunda de toda a sua vida.
Este é o ponto central da liturgia da Quinta-feira Santa que se realiza na Eucaristia, ou seja, a entrega de Jesus por nós e o convite a que, a partir deste momento, também a nossa vida seja uma entrega ao irmão para realizar a verdadeira comunhão, a “koinonia”, sinal de uma verdadeira comunidade eucarística.
Um outro aceno deste gesto do “Lava-pés” é a lembrança do nosso batismo que nos leva ao significado mais profundo da entrega na cruz.
A água que nos purifica e regenera, nos leva a partilhar com Cristo da vida nova, do homem transfigurado que se reveste da glória de Deus, o Homem novo que sai vitorioso da submissão e do sofrimento misterioso da cruz.
A liturgia de Quinta-feira Santa à noite abre para nós o Tríduo Pascal, onde viveremos todo o mistério pascal tendo como centro a Vigília Pascal, que é a mãe de todas as vigílias celebradas pela Igreja.
Hoje é urgente que este gesto de Jesus aconteça entre nós como um verdadeiro “sacramento de serviço e fraternidade”.




O LAVA-PÉS (Papa João Paulo II)




Pe. Sebastião Fábio Girolamo

2 comentários:

Jacinta Dantas disse...

Olá,
passo por aqui pela primeira vez. Gosto da sua reflexão sobre o dia de hoje.
Um abraço
Jacinta

Rui Caetano disse...

Uma perspectiva. Um momento cultural, gostei muito. Uma Boa Pàscoa.