terça-feira, 7 de agosto de 2007

OBSCENIDADES LUSÓFONAS










Marina Ribatski







OBSCENIDADES LUSÓFONAS

“Os Bonde do Rolé protagonizaram o espectáculo mais alucinante da 2ª. Noite do Festival do Sudoeste e os Buraka Som Sistema confirmaram o estatuto de coqueluches”


Quando, no final da tarde de hoje – o 3º. Dia do 11º. Festival do Sudoeste -, os britânicos Air Traffic entraram em cena com o seu indie-rock, algum fulgor e imaturidade, adivinhava-se chuva na Herdade da Casa Branca. De repente uma das cordas que segurava um “bungee car” soltou-se da altura de 30 metros e partiu o vidro do carro, que deu várias cambalhotas no ar, com duas pessoas dentro, mas não caiu. Felizmente, tudo não passou de uma grande aventura para um dos ocupantes, que saiu do carro sob fortes aplausos, apenas com ferimentos ligeiros.

Por esta altura, nem mil pessoas estariam a assistir ao espectáculo da banda liderada por um guitarrista-teclista, que suava copiosamente e deixava as veias do pescoço salientes de tão pouca contenção, pedindo desculpa pelo visível estado de nervosismo em que se encontrava. Coisas de quem tem talento mas que só agora começou a dar os primeiros passos neste mundo de libertação sonora.

Uma postura bem diferente da adoptada pelo trio brasileiro Os Bonde do Rolé, que animaram, e muito, a segunda noite do evento. No palco Planeta Sudoeste, Marina Ribatski, a vocalista do grupo, pôs-se de cócoras e, debaixo das cuecas, tirou um objecto oval, como se estivesse a representar uma galinha a pôr um ovo. O povo delirou, ela ergueu-se com uma cambalhota, fez com que toda a gente apalpasse os próprios sovacos, lambeu-se, todos cantaram em uníssono e em altos berros: “Marina, mostra a vagina!” Ela acariciava a pélvis. Pedro, o outro vocalista, agarrava-a por trás e exclamava: “Você está possuída!”

E de facto estavam.

Eles, os mais alucinados, do panorama musical brasileiro, funk da favela e mangue beat electrónico alternado com samba psicadélico, levaram ao rubro uma pequena multidão literalmente em delírio que sabia de cor e salteado as letras contundentes das músicas. Um grito de ironia, humor e muita irreverência.
Abandonado o palco Planeta Sudoeste, com o povo a aplaudir desenfreadamente, os Bonde do Rolé ainda subiram à cena principal com os Buraka Som Sistema para continuarem uma luso-folia cantada em português mestiço e carregada de obscenidades. Às tantas, muitas das cerca de 40 mil pessoas que por ali se encontravam bradavam “Filho da p…, filho da p…” com descontracção, mas o CM não conseguiu apurar ao certo a quem os impropérios se dirigiam.

Enquanto os Buraka debitavam o seu kuduru, um jovem desmaiado passou em frente ao palco amparado por dois elementos da Cruz Vermelha Portuguesa. Era madrugada e os excessos faziam estragos. Na penumbra da luz violeta, os corpos exaltavam ao ritmo das batidas cardíacas aceleradas e a Herdade da Casa Branca, perto da Zambujeira do Mar, estava transformada numa gigantesca discoteca.

Antes, outro brasileiro, esse surfista de nome Armandinho, arrepiado da cabeça aos pés neste primeiro concerto fora do Brasil, cantou “Sentimento” ao som de uma batida reggae de praia, surf, namoro e harmonia.

Depois, os Cypress Hill, incontornável referência do Hip-Hop, chegaram a Portugal com uma década de atraso mas, ainda assim, mostraram que são um dos projectos mais enérgicos e com um cultivado sentido de espectáculo.

Antes destes, os escoceses Cinematics trouxeram rock-indie adolescente e os dinamarqueses Outlandish o Hip-Hop “chato” de batidas monocórdicas que, de acordo com um jovem de Coimbra, “até dá vontade de vomitar”. Parece-nos que tinha razão.

José Manuel Simões (CM)
2007/08/04

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